Escola de Vela Oceano Florianópolis
Quem veleja tem história #3
Sobre o desencalhe do veleiro francês na Ilha de Santo Aleixo - PE
Escola de Vela Oceano - Quem veleja tem história #3
Por
Marcelo Visintainer Lopes
Instrutor de Vela
Escola
de Vela Oceano
Travessia Recife
– Salvador.
Eu e alunos (formados
e formandos).
Sairemos do Recife
amanhã logo após o café (ao amanhecer).
As primeiras 24
horas serão de puro desconforto e por esta razão peço atenção redobrada para a
alimentação e atitudes em geral.
Preparem-se para
o contravento e para uma grande agitação marítima!
Evitem entrar na
cabine para pegar bobagens e deixem na mão tudo o que forem precisar de mais
imediato (protetor, fotografia, casaco, boné).
Esta foi a fala
inicial...
Antes de iniciar
qualquer travessia (não importa a distância) eu sempre abordo os temas
segurança, alimentação, bons hábitos e consumo de álcool.
O veleiro
encontrava-se fundeado dentro da barra para uma noite de ambientação. Preparei
o jantar e avisei que iria descansar, mas antes pedi encarecidamente que todos dormissem
cedo.
Algo me dizia que
não iria rolar... Estavam muito eufóricos com a travessia.
Recém haviam
embarcado e eu sabia que a ansiedade não deixaria ninguém descansar direito.
Boa alimentação,
uma boa noite de sono, ambientação ao balanço e a não ingestão de álcool são as
melhores coisas que a gente pode fazer antes de iniciar uma velejada em mar
aberto.
Embora eu sempre aconselhe
o melhor, às vezes não funciona!
Acham que é
exagero meu e pagam para ver na prática.
Minha principal
recomendação/preocupação foi em relação ao álcool.
Muita gente leva
combustível extra escondido nas malas... kkkkk
Bebidas
alcóolicas causam enjôo com mais facilidade e a previsão do mar agitado poderia
ser fatal para o estômago.
Deitei e dormi
reto até o amanhecer.
Durante a noite
eu não percebi nada de diferente (nenhum barulho e nenhum comportamento
inadequado), mas quando acordei para preparar o café da manhã me deparei com
“algumas” garrafas vazias (destilados) dentro da pia.
Logo pensei: FFF
(aquele palavrão feio).
Olhei para os
lados e não vi tripulantes dormindo; vi apenas corpos jogados pelos cantos...
Beleza, eu bem
que avisei!
Agora tenho o
direito de tocar o terror mesmo!!
Gritei: o café já
está servido e em seguida partiremos!
Assim que viramos
a barra e o barco começou a subir de proa nas ondas, notei as caras de pavor
(estômagos de pavor).
O primeiro
candidato desceu rapidamente ao banheiro com alguma desculpa esfarrapada e
quando voltou os demais começaram a cair em sequência.
Resultado: desmaiados
e amontoados no cock-pit e eu sem tripulação!
Cruzei pelo Cabo
de Santo Agostinho e pelo Porto de Suape sem nenhuma pretensão de parar, mesmo
sabendo que abrigo, comida e aquecimento seriam as melhores medicações.
Como eu estava P
da vida com o descumprimento das orientações, fiz valer o planejamento inicial
de não realizar paradas.
Eu tinha outra
tripulação completa para embarcar em Salvador e não queria me atrasar.
As condições
seriam mais favoráveis a partir do segundo dia e eu sabia que mais cedo ou mais
trade eles melhorariam.
O problema é que
eu estava bem cansado com mais de 10 horas de cockpit e o disjuntor estava
querendo cair.
A região possui
muita atividade pesqueira e qualquer descuido poderia me levar para cima de uma
rede ou de uma embarcação.
Decidi buscar um
local para descansar.
Ao sul de Porto
de Galinhas (7 milhas) existe uma ilha chamada Santo Aleixo.
Ela está
localizada em frente à foz do Rio Sirinhaém, no município de mesmo nome.
A ilha oferecia o
abrigo que eu necessitava, porém não havia resolução suficiente na carta
náutica para realizar a aproximação.
Fui seguindo o
rumo das águas de tom azul mais escuro, que são as mais profundas, já que dava
para perceber bem o contraste entre os tons de azul mais claro.
Consegui abrigar
e escolher um bom ponto de ancoragem sem maiores problemas.
As ondas
desapareceram e o mar ficou bem calmo.
Com aquela
calmaria toda meus tripulantes foram voltando à vida como ursinhos acordando...
Kkkkk.
Fui para a
cozinha preparar o jantar de recuperação e a galera se motivou a dar um
mergulho.
Ficaram ali pela
popa relaxando e decidiram nadar até a ilha que estava a uns 200 metros.
Percebi que eles chegaram
exaustos na praia e decidi aproximar o barco para facilitar o retorno.
Lancei o ferro
uns 50 metros mais próximo e esperei que retornassem.
Enquanto eu os esperava
notei que a quilha deu uma tocadinha em algo mais duro do que areia e gritei
para acelerar o retorno.
Com todos a bordo,
comecei a suspender o ferro e ao iniciar o deslocamento a vante percebi que a
quilha estava acomodada entre pedras.
Não ia nem para
frente e nem para trás.
Só havia uma
solução mais rápida e eficaz: adernar pela adriça e rebocar.
Logo que
fundeamos eu vi a presença de barcos de pesca fundeados bem próximos à praia e
pensei em pedir ajuda a eles.
Nadei até a ilha
e acionei dois barcos que prontamente se colocaram à minha disposição.
Dois barcos
trabalhando em sincronia produziriam o efeito que eu desejava e com esforço
zero.
Peguei carona com
um deles e fomos até o veleiro.
Expliquei aos
dois como seria feita a manobra e após o entendimento demos início ao
desencalhe.
Pela adriça do
balão (e mais 50m de cabo extra), coloquei um dos barcos pelo través de
boreste.
O outro barco aguardava
com um cabo de reboque amarrado na minha proa.
Ok. Todos prontos?
Ao meu comando: barco
de boreste marcha a vante lentamente e barco de proa aguardar.
Coloquei os
tripulantes no mesmo bordo para ajudar na adernação e quando a borda começou a
tocar na água, dei comando para o barco de proa: a vante lentamente.
Deixei claro para
toda a tripulação que a manobra seria uma verdadeira aula de desencalhe e uma
excelente oportunidade para aprender o que fazer em situações como aquela.
Se o fundo fosse
de areia bastaria utilizar o próprio peso da tripulação, mas aquele caso era
diferente.
Se houvesse só um
barco de reboque eu o teria colocado no través e dali adernaria e puxaria para
fora da pedra ao mesmo tempo.
Uma âncora levada
bem longe pela proa faria o mesmo papel do segundo barco, bastando apenas
iniciar a puxada pela catraca após a adernação ocorrer.
Encalhes em
fundos de areia ou lama são relativamente fáceis de sair, já que não estamos
preocupados em arrastar a quilha no fundo.
Em fundos mistos
de areia e pedra (que era o caso) ou em fundos só de pedra ou coral, todo o cuidado
e zelo com o barco é pouco!
Em menos de um
minuto o barco estava solto e com a quilha intacta.
A cena mais
engraçada da manobra foi quando eu estava lançando a adriça do balão para o
menino do barco de boreste.
Quando eu
descrevi a manobra e ele percebeu o tamanho da responsabilidade, ele gritou: arrume
uma pessoa mais experiente!
Aquela frase de
receio, combinada como pitoresco sotaque do nordeste foram a cereja do bolo da
manobra.
Eu o tranquilizei
dizendo: calma, eu vou ajudar você na manobra.
Fique tranquilo!
Foi muito
divertido (sem sarcasmo) ver a ansiedade daquele jovem pescador frente a uma ação
daquelas.
Era a primeira
vez que ele fazia aquilo e com certeza ficou com medo de quebrar o mastro, sei
lá...
Este tipo de
manobra deve ser feita pela adriça que fica na altura do estai de proa.
Se a mastreação é
ao tope, qualquer adriça serve, tanto do grande como genoa ou balão.
Quando a
mastreação é fracionada devemos usar a adriça do balão ou da genoa, pois do
contrário a ponta do mastro pode torcer ou quebrar.
Isto quer dizer
que não devemos utilizar a adriça do grande!
Nunca esqueça
deste detalhe!
Para o nosso
deleite e comentários futuros o episódio ficou conhecido como “O Encalhe do
Veleiro Francês”!
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